segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Os escândalos do PT desde o início da era Lula e o terremoto com a Lava-Jato



Vídeo de Waldomiro Diniz cobrando propina para campanha, em 2004, iníciou série de abalos no partido. Assessor da Presidência era ligado ao bicheiro Carlinhos Cachoeira

Um vídeo com Waldomiro Diniz, então assessor da Presidência para assuntos parlamentares, deu início, em fevereiro de 2004, à série de escândalos envolvendo o Partido dos Trabalhadores após Luiz Inácio Lula da Silva assumir a Presidência da República, no ano anterior. Waldomiro foi afastado do cargo depois da divulgação de imagens em que aparece cobrando propina para arrecadar dinheiro para a campanha eleitoral do partido, em 2002, quando era presidente da Loterj - Loteria do Estado do Rio de Janeiro. No decorrer do processo, descobriu-se que ele também era ligado ao bicheiro Carlinhos Cachoeira, empresário preso por acusações de envolvimento no crime organizado e corrupção.
Pouco mais de um ano depois, em 15 de junho de 2005, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), da base aliada do governo, detalhou, no Conselho de Ética da Câmara, em depoimento transmitido ao vivo pela TV, o esquema de corrupção que consistia na compra de votos comandado pelo governo do PT, o mensalão. Ele acusou, entre outros altos dirigentes petistas, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Deputados eram periodicamente pagos com dinheiro público, desviado com a ajuda do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e do operador, o publicitário Marcos Valério.
Dirceu foi demitido da Casa Civil em 21 de junho, mas continuou sua vida pública como deputado federal (PT-SP). No entanto, em 30 de novembro, a Câmara dos Deputados cassou o seu mandato por quebra de decoro, com 293 votos a favor e 193 contra.
Em meados de setembro de 2006, um novo escândalo iria abalar o PT: a Polícia Federal prendeu dois integrantes do partido (chamados posteriormente, de "aloprados" por Lula) que tentavam negociar um falso dossiê que ligava José Serra e Geraldo Alckmin — candidatos tucanos ao governo de São Paulo e à Presidência, respectivamente — ao Escândalo dos Sanguessugas. Esta operação da Polícia Federal, deflagrada em 4 de maio de 2006, investigava fraude em licitação de compra de ambulâncias para municípios e pôs na cadeia os deputados Bispo Rodrigues (PFL-RJ) e Ronivon Santiago (PP-AC).
Um dos "aloprados" era Hamilton Lacerda, ex-assessor de Aloizio Mercadante, do PT, também candidato ao governo de São Paulo. A PF apreendeu ainda com os petistas R$ 1,7 milhão em notas de real e dólar, cujas imagens foram vazadas em 29 de setembro para a imprensa, a dois dias das eleições.
Em junho de 2011, no primeiro ano do mandato da presidente Dilma Rousseff, houve a primeira turbulência no governo. Pela segunda vez, Antonio Palocci foi demitido do cargo de ministro-chefe da Casa Civil, dessa vez, sob suspeita de enriquecimento ilícito e tráfico de influência como consultor, no período em que era deputado. Em 27 de março de 2006, Palocci havia sido demitido da Casa Civil após ter sido acusado pelo presidente da Caixa Econômica, Jorge Mattoso, de participação na quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Em seguida, Dilma iniciou uma "faxina" nos ministérios que seguiu até 2012. Perderam o cargo sob suspeita de malfeitos os ministros Wagner Rossi (Agricultura), Orlando Silva (Esporte), Pedro Novais (Turismo) e Mário Negromonte (Cidades).
Em 22 de outubro de 2012, oito anos após a explosão do escândalo do mensalão, José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, todos integrantes da cúpula do PT, foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção ativa e formação de quadrilha. Em agosto de 2014, Genoino pediu progressão de regime e passou a cumprir a pena em casa, assim como Delúbio e Dirceu.
Mas todos os escândalos até então descobertos seriam ofuscados pela Operação Lava-jato, deflagrada em 17 de março de 2014, tendo à frente o juiz Sérgio Moro, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. Suas investigações, desdobradas em fases, levaram à descoberta do maior escândalo de corrupção do país, com o foco inicial no desvio de recursos da Petrobras. Cerca de R$ 2,9 bilhões já foram recuperados. Incentivados pela delação premiada, réus disseram que parte da propina do esquema ia para o PT.
Acusado de receber propina de contratos da Petrobras para o PT, em doações oficiais e em espécie, o ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto foi preso, na 10ª fase da operação, em abril de 2015, e condenadoa dez anos de prisão pelo juiz Sérgio Moro, em setembro. Na 23ª fase da Operação Lava-Jato, chamada de Acarajé, o marqueteiro das campanhas de Dilma e Lula, João Santana, foi preso junto com a sua mulher, Mônica Moura, em 22 de março de 2016. Eles são acusados de receber propina no exterior, repassada pela Odebrecht, uma das empreiteiras envolvidas no escândalo.
Poucos dias depois, chegaram à imprensa acusações do ex-líder do governo, senador Delcídio Amaral, contra Dilma e Lula no escândalo da Petrobras. Em sua delação premiada, o senador disse que ambos teriam atuado para atrapalhar as investigações da Lava-Jato. Delcídio havia sido preso em flagrante, em dezembro de 2015, ao tentar comprar o silêncio do delator Nestor Cerveró, executivo da Petrobras entre 1975 e 2014.
Na 24ª fase da operação, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alvo da Polícia Federal. Em 4 de março de 2016, ele foi levado, coercitivamente, de seu apartamento em São Bernardo do Campo (SP) para prestar depoimento numa sala da PF no aeroporto de Congonhas. Sua relação com empreiteiras é investigada. Filhos de Lula e o braço-direito Paulo Okamoto também são alvos da operação.

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